O Falar em Línguas,
Hoje - Apêndice A (A Língua dos Anjos)
"Ainda que eu falasse as línguas dos
homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o
sino que tine. (2) E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os
mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que
transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria." (I Coríntios
13:1-2 ACF1)
Introdução
A questão da existência ou
não de uma língua falada pelos anjos é uma questão interessante e que merece
uma atenção especial de nossa parte.
Há consenso entre os
cientistas que uma das formas mais simples de se reconhecer a presença de
inteligência em uma determinada espécie, e qual é o seu nível de
desenvolvimento, é através da existência ou não de comunicação entre os
indivíduos desta espécie. Quanto mais complexa for esta comunicação, maior é a
inteligência atribuída aos que a executam.
Por exemplo, os golfinhos
são reputados como tendo grande inteligência, e isto pode ser verificado
através do fato deles se comunicarem entre si através de um complexo sistema de
sons. Ainda não foi possível à ciência desvendar sua língua, mas, é possível
determinar com precisão que é bastante complexa, composta de diversas
estruturas construtivas que formam seu padrão de comunicação.
A
Existência da Língua dos Anjos
Verificamos através da
Palavra de Deus que os anjos são seres de grande inteligência, capazes de
executar tarefas extremamente complexas, capazes de falar aos homens não
importando qual a língua da pessoa com quem estão falando, enfim, seres que são
poderosos também em seus atributos intelectuais. Assim, usando de raciocínio semelhante
ao anteriormente apresentado, entendemos que os anjos têm uma ou mais línguas
próprias, através das quais se comuniquem entre si. Também através deste mesmo
raciocínio, podemos ter certeza de que é extremamente rica e complexa.
Não queremos entrar no
mérito de serem estas línguas mais complexas que as línguas humanas, mas,
podemos ter absoluta convicção de que elas têm pelo menos o mesmo nível de
complexidade da mais simples língua humana existente, pois, menos que isto,
impediria a comunicação dos anjos com os homens, além do que, denotaria uma
falta de desenvolvimento intelectual por parte dos anjos, o que sabemos pela
Palavra de Deus não ser verdade.
O
que o apóstolo Paulo estava dizendo
O apóstolo Paulo, em seu
texto em I Coríntios 13, está exortando aquela Igreja, que em uma demonstração
de falta de Cristianismo, estava falando em vários idiomas desconhecidos por
aquelas pessoas, afrontando com isto os que eram indoutos e aqueles que
procuravam a Igreja a fim de conhecer a mensagem do Evangelho.
Algumas coisas ficam claras
por parte do texto:
- O apóstolo Paulo não falava
línguas de anjos. Isto fica indicado pelo condicional da frase:
"Ainda que eu falasse."
- Mesmo na possibilidade (que não
havia) de alguém falar as línguas faladas pelos anjos ao se comunicam uns
com os outros, ainda assim, sem amor, não teria qualquer valor.
- Segue o apóstolo dizendo que se
tivesse fé suficiente para transportar os montes, sem amor, nada seria.
Seria algo tão glorioso
falar-se em todas as línguas dos homens e dos anjos quanto seria transportar os
montes através da fé. São eventos colocados pelo apóstolo lado-a-lado como
sendo equivalentes.
É a
glossolalia a Língua dos Anjos?
Alguns têm afirmado que a
atual glossolalia é a língua dos anjos. A glossolalia é um falar em êxtase,
composto de 10 ou 20 vocábulos combinados de 20 ou 30 formas distintas. Na
verdade a glossolalia não passa de uma série de sílabas desconexas, colocadas
ao acaso, sem a formação de estruturas lingüísticas definidas. E isto a
desqualifica primeiramente como uma língua, já que não tem nenhuma das
estruturas necessárias para ser assim considerada, e deste modo, isto também a
desqualifica como sendo uma das línguas dos anjos.
Devemos estar cientes de
que os lingüistas são capazes de observar em uma comunicação falada estruturas
como substantivos, expressões adverbiais, pronomes, adjetivos, conjunções,
preposições, etc. Assim, se as pessoas que alegam falar a língua dos anjos
estivessem de fato falando uma língua poderíamos reconhecê-la como sendo uma
língua verdadeira e real, ainda que celestial, o que definitivamente não
acontece.
O falar em línguas "moderno"
Descrição
Várias
denominações consideram que o falar em línguas descrito pela palavra de Deus ,
é um falar extático, ou seja, algo que ocorre sem que a pessoa tenha pleno
controle do que acontece consigo mesma, ocorrendo em uma espécie de transe.
Mas, como já vimos, uma das características do Cristão é o autodomínio, se algo
acontece que tira a pessoa do seu estado de sobriedade, de autocontrole, de
consciência dos eventos à sua volta, não pode ser atribuído ao Espírito Santo,
mas, a outros fatores externos que estão afetando o pleno domínio das
faculdades desta pessoa. Na Bíblia em várias ocasiões somos exortados a sermos
sóbrios:
"Mas nós, que
somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e do amor, e tendo
por capacete a esperança da salvação;" (I Tessalonicenses 5:8 ACF1)
"Portanto,
cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios, e esperai inteiramente
na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo;" (I Pedro 1:13)
A palavra sóbrio
tem o seguinte significado:
- moderado,
contido no comer e no beber ;
1.1 não amante ou dependente de bebidas alcoólicas;
- que
não se encontra sob o efeito de bebida alcoólica; não intoxicado por
álcool;
- marcado
por temperança, equilíbrio, moderação e/ou seriedade; contido nas emoções
e caprichos;
- despojado
de exibições de poder, cultura, inteligência; de caráter ou comportamento
sereno, discreto, recatado;
- destituído
de floreios e ornamentos desnecessários.
Atentando para os
significados 3 e 4, vemos que há total incompatibilidade entre a ordem bíblica
de ser sóbrio e as ações que privam a pessoa de seu autodomínio, de seu
controle pessoal. Não há como estar em transe e ser fiel à palavra de Deus ao
mesmo tempo, são ações mutuamente excludentes.
Revendo os
testemunhos daqueles que apresentam o "dom", vemos que alguns relatam
este transe como "flutuar", outros como "estar fora do seu
corpo", outros ainda como "estando dominados por um poder
superior", e outros como tendo sido possuídos "pelo Espírito
Santo", além de vários outros eventos que sempre ocorrem de modo concomitante
à ação da glossolalia.
Apenas este
testemunho já seria suficiente para descaracterizar a glossolalia como uma obra
do Espírito Santo de Deus, mas, continuemos no estudo.
Os que praticam o
falar em êxtase afirmam que este falar não se dá em uma linguagem humana
existente e inteligível (por exemplo, em alemão, ou em japonês, ou em
tupi-guarani), mas, afirmam ser esta uma espécie de linguagem
"divina" ou "de anjos", a qual tem na maior parte das vezes
um máximo de 10 vocábulos, combinados de umas 20 formas diferentes.
Isto, na verdade,
está muito longe de poder ser considerado como uma língua, um dialeto, ou
qualquer coisa que se assemelhe à comunicação. Só para se ter uma idéia
comparativa, o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa traz mais de 228.000
verbetes (palavras), e a conjugação de 15.000 verbos. Isto mesmo só de verbos
existem mais de 15.000 (quinze mil) relatados por este dicionário! A língua
inglesa arcaica (como era falada por Shakespeare) tinha mais de 50.000 palavras
diferentes, e no Novo Testamento foram utilizadas nada menos que 5.624 palavras
diferentes em grego. Não há como se considerar um conjunto de 10 ou 20 ou,
mesmo que fossem, 100 vocábulos diferentes como sendo uma língua. Simplesmente
não é possível se estabelecer qualquer nível de comunicação lingüística com tão
poucas palavras.
Para que tenhamos
uma idéia ainda mais clara, somente neste estudo que ora fazemos há em torno de
10.000 palavras, sendo mais de 2.600 palavras diferentes!
É importante que
tenhamos em mente que o falar línguas extático, é prática pagã, e existe em
praticamente todas as religiões e seitas, do espiritismo ao islamismo, do
mormonismo à umbanda.
Todas estas
religiões, ou práticas religiosas, alegam possuir o "dom" espiritual
de falar línguas estranhas. E muitas, mesmo estando afastadas de Cristo e do
Seu Santo Espírito, como o caso dos Mórmons ou dos carismáticos Católicos,
alegam possuir o "dom" através de ação do Espírito Santo de Deus.
Mais aterrador ainda, é ver um terrorista, com fuzil em punho e máscara sobre o
rosto, "falando línguas" (glossolalia), pouco antes de explodir-se em
uma lanchonete cheia de crianças.
Hoje, muitos têm
perdido a noção de que nem tudo que é espiritual provém de Deus, e que muitas
manifestações espirituais, mesmo que assim pareçam, não procedem de Deus,
vejamos novamente a advertência que nos faz o apóstolo João:
"Amados, não
creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já
muitos falsos profetas se têm levantado no mundo." (I João 4:1)
Pequeno
Histórico
O falar em línguas
extático não se iniciou com Cristãos, na verdade é uma prática muito mais
antiga. A primeira referência histórica que se tem de uma fala religiosa
frenética remonta a 1.100 a.C. através do relato de Wenamon, onde um jovem
adorador do deus Amon, após ter oferecido sacrifícios ao seu deus, foi possesso
por ele e iniciou a falar freneticamente. Esta ação, segundo este relato, durou
toda uma noite.
Platão demonstrou
conhecer o falar em línguas extático ao descrevê-lo em vários de seus diálogos.
No Phaedrus ele tratou de famílias que estavam participando de santas orações,
ritos e pronunciamentos inspirados. Os participantes eram indivíduos que ao
serem possessos perdiam o juízo (perdiam o controle das faculdades mentais,
porém não ocorria enlouquecimento). A participação nestes eventos segundo o
relato de Platão chegava a produzir a cura física de doenças nos adoradores. A
essa "loucura" religiosa ele chamou de dádiva divina. Também afirmava
que a profetiza de Delphos e a sacerdotisa de Dodona, quando fora de si, podiam
exercer grande influência benéfica sobre certos indivíduos, porém quase nenhuma
quando em domínio de suas faculdades mentais. Relatou fatos semelhantes no Ion
e no Timaeus. Neste último, relata que quando um homem recebe a palavra
inspirada, sua inteligência é dominada ou possessa, e essa pessoa passa a não
poder se lembrar do que falou, sendo que estas falas são muitas vezes
acompanhadas de visões, as quais a pessoa possessa também não pode julgar,
necessitando assim de intérpretes ou profetas para exporem as declarações
daquele que tem a fala "inspirada".
Já Vergílio relata
que a sacerdotisa Sibelina adquiriu seu falar extático em visita a uma caverna
onde os ventos encanados produziam sons estranhos que pareciam, às vezes,
música.
Já a Pitonisa de
Delfos é descrita por Crisóstomo2, desta forma:
"...diz-se
então que essa mesma Pitonisa, sendo uma fêmea, às vezes senta-se escarranchada
na trípode de Apolo, e, por conseguinte, o espírito mau, subindo debaixo e
entrando na parte baixa do seu corpo, enche de loucura a mulher, e ela, com o
cabelo desgrenhado, começa a tocar o bacanal e a espumar pela boca, e assim,
estando num frenesi, fala as palavras de sua loucura".
A história não
registra entre Cristãos a ocorrência de um falar em línguas extático antes do
início do século XX, quando do início do pentecostalismo. Porém, em alguns
grupos pequenos e isolados, os quais se diziam cristãos, houve a ocorrência de
um falar em línguas extático. Vejamos alguns destes que alegaram ter tido este
"dom":
- Século
19
- Irvingitas:
Sua principal característica era a de criar novas revelações além das
presentes na Bíblia Sagrada.
- Século
18
- Ann
Lee e seus discípulos (Shakers): Falavam em línguas enquanto
dançavam...nus!!
- Jansenitas:
Falaram em línguas ao dançarem sobre o túmulo de Jansen...também nus!!
- Século
17
- Os
Quacres, diziam que a experiência devia julgar a Bíblia e não o
contrário, há alguns relatos de que houve glossolalia entre eles.
- Século
2
- Montanuenses:
também pregavam a contínua revelação e duas classes de crentes, uma
superior e outra inferior; Montano, seu líder, alegava ser o próprio
Espírito Santo.
Pelo exemplo da
postura doutrinária e moral destes que alegaram através dos tempos serem
cristãos, e terem falado línguas enquanto em êxtase, podemos afirmar
seguramente que não se tratava de verdadeiros Cristãos, pois desdenhavam da
palavra de Deus como Sua máxima revelação.
O falar em línguas
extático entrou para o Cristianismo, através do movimento pentecostal iniciado
por Spurling, Tomlinson e Parham, no início do século XX. Charles Parham foi
tido como o pai do pentecostalismo moderno, tendo criado o Lar de Curas Betel e
o Colégio Bíblico Betel, o qual ensinava que a evidência do batismo com o
Espírito Santo seria sem dúvida a glossolalia. Deste ponto em diante se
desenvolveu o movimento pentecostal, perseguindo o batismo com o Espírito Santo
e sua evidência visível, a glossolalia. Em 1o de janeiro de 1901, Agnes Ozman,
uma das alunas do colégio falou em línguas após ter buscado freneticamente pelo
batismo com o Espírito Santo. Ela foi a primeira pessoa dita Cristã a
demonstrar a glossolalia.
O movimento
pentecostal, teve um crescimento gradual, mas lento, e somente surgiu como um
movimento de grandes proporções a partir de meados do século XX. E daí até aos
dias de hoje, os distintivos pentecostais, que antes estiveram restritos aos
meios pentecostais, começaram a invadir as igrejas tradicionais, e muitas estão
sucumbindo a algumas das práticas pentecostais.
Considerações
Frente a estes
fatos devemos tecer algumas considerações:
Mesmo tendo claro
em nossa mente que muitos crentes sinceros e dedicados têm buscado e
apresentado este "dom", precisamos entender que qualquer experiência
que contradiga o que nos é ensinado pela palavra de Deus deve ser considerada
como anátema, e devemos nos afastar dela:
"A vós
também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas
vossas obras más, agora contudo vos reconciliou (22) No corpo da sua carne,
pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e
inculpáveis, (23) Se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé,
e não vos moverdes da esperança do evangelho que tendes ouvido, o qual foi
pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito
ministro." (Colossenses 1:21-23)
Bem como devemos
estar firmemente fundamentados na Palavra de Deus para através dela podermos
ensinar a outros as maravilhosas verdades de nosso Deus:
"Retendo
firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto
para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes."
(Tito 1:9)
Isto posto,
prossigamos em analisar este falar em línguas "moderno":
Segundo as
declarações daqueles que dizem possuir o "dom", este vem acompanhado
de ventos, perfumes, tremores, convulsões físicas, sensação de flutuação,
choques elétricos, luzes, transpiração (devido ao calor do Espírito Santo),
visões, curas, ver e ouvir a Cristo e tocar nele, etc. Algumas ou todas estas
coisas podem acontecer concomitantemente à glossolalia. Contudo, não há nenhuma
referência no Novo Testamento sobre quaisquer destes eventos como ações
concomitantes ao falar em línguas, o que descarta estas experiências adicionais
como sendo bíblicas.
Também, segundo
testemunho dos que têm apresentado o falar em línguas "moderno", sua
vida se transformou depois de terem começado a demonstrar o "dom".
Mesmo sem compreender as palavras que proferem, surge uma luta interior contra
os pecados pessoais, um grande interesse pela igreja, pelo dizimar, pelo
aconselhar e pelo falar de Cristo, desejo de estudar a palavra de Deus, e uma
grande alegria interior, e alguns chegam a experimentar até curas físicas e
mentais.
Claro que os
resultados aqui descritos são extremamente desejáveis e recomendáveis a
qualquer crente no Senhor Jesus Cristo, contudo devemos ter claramente diante
de nossos olhos que o resultado de uma experiência espiritual não constitui um
teste válido de sua origem divina. Todas as experiências devem ser julgadas
pela Palavra de Deus. O fim não justifica nem revela os meios! Ou uma
experiência espiritual está completamente de acordo com a palavra de Deus ou
deve ser descartada, por melhor ou por mais promissora que possa parecer!
"Mas, ainda
que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos
tenho anunciado, seja anátema" (Gálatas 1:8)
A experiência da
glossolalia contradiz completamente os ensinos da Bíblia Sagrada com relação ao
propósito, duração e natureza do dom de línguas, bem como quanto à
regulamentação do seu uso. Logo, este "moderno falar línguas" NÃO
pode ser de Deus, pois Deus não contradiz sua palavra:
"Porque em
verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se
omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido." (Mateus 5:18)
"Jesus Cristo
é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente." (Hebreus 13:8)
Se encontrarmos
uma manifestação legítima de "falar línguas", veremos que ela estará
plenamente de acordo com o estabelecido pelo Espírito Santo ao redigir a Bíblia
Sagrada, através da inspiração de homens santos, e veremos que a língua falada
então será humana e inteligível, não haverá nenhum evento concomitante
dissonante do descrito pela Palavra de Deus, e a ação terá o propósito de
edificar o corpo de Cristo como um todo e haverá alguém para interpretá-la
(traduzi-la), se for o caso.
E se não for
assim, então, a obra não é de Deus, restando então apenas três outras fontes
para esta manifestação de erro: o coração humano, Satanás e a fraude, razões
estas que veremos em detalhes mais à frente.
O "dom"
de línguas é hoje uma febre que tem tomado conta de denominações pentecostais,
neopentecostais e dos assim chamados "carismáticos", evangélicos ou
não. Todos estes acreditam que se não for possível falar "línguas
estranhas" (ou seja, o falar em êxtase, a glossolalia) não é possível que
se alcance a felicidade e a plenitude como cristão, pois não teria havido o
batismo com o Espírito Santo, estando este crente, portanto, desprovido do
Espírito de Deus, lutando com suas próprias forças para vencer o pecado e todo
o mal, em uma situação de total desespero e desalento, sem discernir as coisas
de Deus, pois estas se discernem espiritualmente, lutando cego, uma luta em que
lhe é impossível obter a vitória, pois todo o poder está em Jesus Cristo e
chega a nós através do Seu Santo Espírito. Que triste a condição deste pobre
crente, pois, trata-se de engano, já que todo aquele que foi transformado pelo sangue
de Cordeiro de Deus recebe o Espírito Santo como selo para o dia da redenção:
"Em quem
também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da
vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo
da promessa. (14) O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da
possessão adquirida, para louvor da sua glória." (Efésios 1:13-14)
"E não
entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da
redenção." (Efésios 4:30)
"Mas o que
nos confirma convosco em Cristo, e o que nos ungiu, é Deus, (22) O qual também
nos selou e deu o penhor do Espírito em nossos corações." (I Coríntios
1:21-22)
Mas, por este
engano, colocado no coração destas pessoas, tem-se estabelecido uma verdadeira
corrida ao "dom". Daí o enorme desespero e a profunda tristeza que
muitos crentes (grande maioria deles, sinceros) enfrenta enquanto não conseguem
exibir o tão almejado "dom".
Razões
para o "dom" nos dias de hoje
Como ficou
amplamente demonstrado acima o dom de línguas bíblico se refere ao falar
línguas humanas e inteligíveis. E sendo assim, como poderíamos explicar que
crentes em Cristo, resgatados por Seu sacrifício vicário, tenham apresentado um
"dom" que está tão longe da verdade Bíblica? Ou, por outro lado, como
explicaríamos pessoas completamente estranhas à Igreja de Cristo, apresentando
o mesmo "dom" que estes crentes?
No primeiro
caso, uma das
explicações possíveis é que isto pode estar sendo causado pela enorme
necessidade que o Cristão sente de fazer parte da sua congregação, de estar
unido a ela. Esta necessidade pode causar tal pressão sobre o subconsciente
desta pessoa que ela passa a apresentar o "dom", passando assim a ser
completamente aceita pelo grupo com o qual congrega.
Uma outra
explicação para este mesmo caso, e uma das mais óbvias, é que seria uma falsa
ocorrência, uma fraude produzida para enganar. Mas, vamos descartar esta
alternativa, enquanto pejorativa, pois, cremos piamente que não há intenção de
dolo por parte dos crentes que professam ter este "dom", eles o têm,
e o têm de forma sincera. Mas, podemos imaginar que alguns, por tamanha
frustração e infelicidade em seus corações amargurados por não terem ainda
apresentado o "dom", possam chegar a imitar os que apresentam o
"dom", de modo a terem a compensação psicológica que isto lhes venha
a dar.
Por outro lado, a
glossolalia pode ser (e em muitos casos é) um fenômeno psicologicamente
induzido: Pois, ao contrário do que aconteceu no primeiro século, hoje as
pessoas são ensinadas a falar em "línguas estranhas", o que se dá
através de uma forma de indução que leva ao delírio e ao êxtase, fazendo então
com que a pessoa fale sem parar. É também digno de nota que ninguém seja capaz
de executar este "falar línguas" sem que antes o tenha ouvido.
Há ainda a posição
duvidosa de certos humanistas, que atribuem a busca pelo êxtase da glossolalia,
e de outras práticas concomitantes, à repressão sexual existente no meio
Cristão, que coloca o sexo como sendo prática válida somente dentro do
casamento. Isto impeliria as pessoas a buscarem dar vazão às suas necessidades
através de ações substitutas ao êxtase sexual. Relatam estes humanistas que por
diversas vezes estas pessoas chegam ao clímax através do êxtase religioso,
satisfazendo-se e dispensando assim as práticas que são proibidas pela doutrina
Cristã.
No segundo caso, como foi citado anteriormente, este
"fenômeno" ocorre também em meios não evangélicos, como no caso dos
católicos carismáticos, de alguns monges orientais e até de esquimós.
Poderíamos crer que o Espírito Santo de Deus tenha dado dons espirituais a
incrédulos, idólatras e hereges os quais duvidam que a morte do Senhor Jesus
tenha sido suficiente para remir nossos pecados? Ou ainda que crêem ser Cristo
apenas uma pessoa "iluminada"? Ou que simplesmente nunca ouviram
falar de Jesus? Lembremo-nos que os dons são para a edificação do Corpo de
Cristo (a Igreja de Jesus) e sendo assim, em que um grupo de idólatras e
hereges falando "línguas estranhas" pode vir a edificar este Corpo?
Há também a ocorrência
do falar "línguas estranhas" através de inspiração demoníaca. Não são
poucas as ocorrências em que demônios falam através de pessoas possuídas:
"Quando,
pois, vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos,
que chilreiam e murmuram: Porventura não consultará o povo a seu Deus? A favor
dos vivos consultar-se-á aos mortos?" (Isaías 8:19)
"Porventura a
minha palavra não é como o fogo, diz o SENHOR, e como um martelo que esmiuça a
pedra? Portanto, eis que eu sou contra os profetas, diz o SENHOR, que furtam as
minhas palavras, cada um ao seu próximo. Eis que eu sou contra os profetas, diz
o SENHOR, que usam de sua própria linguagem, e dizem: Ele disse."
(Jeremias 23-29-31)
E muitos que falam
em nome de Deus, e que clamam em nome do Senhor Jesus, não são de Cristo, e
destes o fogo eterno se incumbirá:
"Nem todo o
que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a
vontade de meu Pai, que está nos céus. (22) Muitos me dirão naquele dia:
Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos
demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? (23) E então lhes direi
abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a
iniqüidade." (Mateus 7:21-23)
E há algumas
doenças que também podem causar o "dom de línguas estranhas", como é
o caso de certos tumores cerebrais.
Conclusão
Não nos deixemos
enganar pelo inimigo. Esta febre chamada de "dom de línguas" tem
provocado a divisão de muitas igrejas. Este alegado "dom" que deveria
ser uma bênção, algo para a edificação do corpo de Cristo, está na verdade
enfraquecendo e dividindo as igrejas de nosso Senhor Jesus, e está levando
crentes ao vício das "línguas estranhas", e ficam de tal forma
transtornados, que perdem completamente a razão, a ponto de que caso seja
provado - biblicamente - o seu erro, como o foi acima, abandonam
prontamente a palavra de Deus em favor de uma experiência de "maior
espiritualidade", alegando que a Bíblia Sagrada está limitando o poder de
Deus, e que esta experiência, este "dom", é a verdadeira revelação de
Deus aos homens, e qualquer que não a tenha experimentado não pode ser
considerado como verdadeiro Cristão. Esquecem-se eles que o coração humano é
traiçoeiro e perigoso, e não merece confiança:
"Enganoso é o
coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?"
(Jeremias 17:9)
Citando Iain H.
Murray: "Nossa
visão de Deus precisa ser controlada não pelo que vemos no mundo, mas pelo que
a Bíblia nos autoriza a crer." E como disse Erroll Hulse: "Toda
experiência precisa ser subordinada à disciplina das Escrituras."
Repetindo: todos
os dons são dados por Deus para que sejam úteis ao corpo de Cristo como um
todo. E qual tem sido a utilidade deste dito "dom", além de provocar
a divisão e a discórdia?
"Mas a
manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil." (I
Coríntios 12:7)
Finalmente,
tenhamos muito cuidado nestes tempos de apostasia, pois há muitos que tentarão
nos enganar:
"Porque
surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e
prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos. Eis que eu vo-lo
tenho predito." (Mateus 24:24-25)
E estejamos
firmes, perseverando naquilo que de Cristo recebemos:
"... Se vós
permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; (32) E
conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." (João 8:31-32)
"E ele
mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para
evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos
santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que
todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem
perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais
meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano
dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade
em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o
corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa
operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em
amor." (Efésios 4:11-16)
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