História da Escola Dominical no Brasil
ESBOÇO HISTÓRICO
“Eu tenho a certeza que as escolas dominicais são, atualmente, a
melhor instituição prática para controlar esses elementos indisciplinados e
violentos da sociedade e providenciar-lhes uma educação básica.” - Robert Raikes
em audiência com a Rainha Carlota da Inglaterra.[1]
INTRODUÇÃO
Quando comemoramos o dia da Escola Dominical (3° domingo de
setembro), normalmente nos lembramos do seu fundador, Sr. Robert Raikes
(1736-1811), um jornalista que no ano de 1780, em Gloucester, na Inglaterra,
iniciou um trabalho de educação cristã ministrada à crianças que não
freqüentavam escola. A este homem sem dúvida alguma, devemos o início
sistemático desta escola tão singular,[2] que se espalhou rapidamente por
toda a Inglaterra, tendo oposição, todavia, contando também com o entusiasmo e
apoio de inumeráveis pessoas, tais como, John Wesley (1703-1791)[3] e William Fox. Em 1788 a
Escola Dominical já possuía, só na Inglaterra, mais de 250 mil alunos
matriculados.[4]
Todavia, hoje queremos apresentar um esboço histórico do
início da Escola Dominical no Brasil, para que junto possamos conhecer um pouco
mais deste trabalho, que tantos benefícios espirituais trouxe, e continua
trazendo à Causa Evangélica em nossa pátria.
Quando os primeiros missionários protestantes começaram a chegar no
Brasil, o movimento das Escolas Dominicais já estava firmado na Inglaterra,
tendo também, se tornado muito forte nos Estados Unidos. Isto explica
parcialmente, o porquê deste trabalho ser logo implantado no Brasil, muitas
vezes, até mesmo antes de se estabelecer formalmente o Culto público. Vejamos
então, como a Escola Dominical surgiu no Brasil....
1. OS METODISTAS COMO PIONEIROS[5]
No dia 28 de junho de 1835 embarca em Baltimore nos Estados Unidos
rumo ao Brasil, o Rev. Fountain E. Pitts, que chegaria no Rio de janeiro em 19
de agosto de 1835,[6] permanecendo ali durante alguns meses, viajando em seguida para
Montevidéu, e, depois de algumas semanas, tomou o vapor para Buenos
Aires,[7] que era
o objetivo final de sua vinda[8].
O Rev. Pitts, entusiasmado com as perspectivas do trabalho
evangélico, deu um parecer favorável à implantação de uma missão Metodista no
Brasil. No dia 2 de setembro de 1835, ele escreve ao secretário correspondente
da Sociedade Missionária da Igreja Metodista Episcopal (IME):
“Estou nesta cidade (Rio de Janeiro) há duas semanas, e lamento que
minha permanência seja necessariamente breve. Creio que uma porta oportuna para
a pregação do Evangelho está aberta neste vasto império. Os privilégios
religiosos permitidos pelo governo do Brasil são muito mais tolerantes do que eu
esperava achar em um país católico (...) Já realizei diversas reuniões e preguei
oito vezes em diferentes residências onde fui respeitosamente convidado e
bondosamente recebido pelo bom povo....”[9]
Na seqüência, Pitts opina sobre o caráter e a experiência daquele que
deverá ser enviado como missionário...
“....Nosso pequeno grupo de metodistas precisará muito de um cristão
experimentado para conduzi-lo; no entanto, eles estão decididos a se unirem e a
se ajudarem mutuamente no desenvolvimento da salvação de suas almas (...) O
missionário a ser enviado para cá dever vir imediatamente e iniciar o estudo do
idioma português sem demora...”[10]
As sugestões de Pitts são aceitas. No dia 29 de abril de 1836
desembarca no Rio de Janeiro, proveniente de New York, Estados Unidos, o
missionário, Rev. Justin Spaulding, acompanhado de sua esposa, o filhinho Levi,
e sua empregada.[11] Spaulding demonstrou ser muito empreendedor no seu trabalho. Em
carta ao secretário da IME, datada de 5/5/1836, menciona que já organizara uma
pequena escola dominical com o grupo de metodistas que o Rev. Pitts
reunira.[12] Posteriormente, em relatório ao secretário correspondente da IME,
datado de 01/9/1836, acentua:
“.... Conseguimos organizar uma escola dominical, denominada Escola
Dominical Missionária Sul-Americana, auxiliar da União das Escolas Dominicais da
Igreja Metodista Episcopal... Mais de 40 crianças e jovens se tornaram
interessados nela (...) Está dividida em oito classes com quatro professores e
quatro professoras. Nós nos reunimos às 16:30 aos domingos. Temos duas classes
de pretos, uma fala inglês, a outra português. Atualmente parecem muito
interessados e ansiosos por aprender...”[13]
Desta forma, baseados nos documentos que temos, podemos afirmar que
a primeira Escola Dominical no Brasil dirigida em português, foi
organizada no dia 01 de maio de 1836. Com esta afirmação, estamos
esclarecendo alguns equívocos cometidos, a saber: 1) A sugestão de que
foi em junho de 1836 que o Rev. Spaulding teria iniciado a Escola
Dominical;[14]
2) A afirmação de que foram os Congregacionais os primeiros a organizarem
esta escola com aula em português em 19/08/1855;[15] 3) A declaração de que
foram os Presbiterianos que iniciaram a referida escola em 1860.[16]
Voltando a nossa rota inicial, observamos que o trabalho Metodista
apesar de ter sido bem iniciado, teve curta duração: a missão metodista, por
diversas razões,[17] encerrou as suas atividades no Brasil em 1841. Neste mesmo
ano[18] ou em
1842,[19] o Rev.
Spaulding retornou aos Estados Unidos.
A missão Metodista só teria o seu reinício definitivo no Brasil, em
05/08/1867[20],
com a chegada do Rev. Junius Eastham Newman (1819-1895) no Rio de Janeiro. Em
abril de 1869, Newman mudou-se para o interior de São Paulo,
Saltinho[21],
trabalhando entre os colonos americanos... Ali, junto com os imigrantes de Santa
Bárbara, organizou no terceiro domingo de 1871,[22] a Primeira Igreja Metodista do
Brasil, com cultos em inglês. No entanto, o trabalho metodista só receberia
convertidos brasileiros em 9 de março de 1879, no Rio de Janeiro.[23]
O Bispo John C. Granbery, da Igreja Metodista Episcopal do Sul,
desembarcou no Rio de Janeiro de 4 de julho de 1886, fazendo então, a primeira
visita episcopal metodista ao Brasil. Em 15/09/1886, organizou a primeira
conferência anual metodista na Igreja Metodista do Catete.[24]
2. OS CONGREGACIONAIS: UMA ESCOLA DOMINICAL DEFINITIVA
O Dr. Robert Reid Kalley (1809-1888), médico e pastor escocês,
acompanhado de sua esposa, Srª Sarah Poulton Kalley (1825-1907), desembarcou no
Rio de Janeiro no dia 10/05/1855, às cinco horas da manhã, proveniente da
Inglaterra[25].
O Dr. Kalley tivera uma experiência intensa. Ele como missionário na
Ilha da Madeira – desde outubro de1838 –. realizava um trabalho muito
concorrido, pontilhado por atividades de âmbito médico (fundando inclusive um
hospital)[26],
educacional e religioso. Foi então que em 1843, a Igreja católica moveu uma
perseguição contra ele. Depois de passar vários meses (mais de cinco
meses)[27] preso,
foi liberto no final de 1843[28]. Em 1846 a situação tornou-se insustentável; a turba havia se
voltado contra ele e, nem o consulado dava-lhe mais garantias... A sua casa “foi
assaltada e queimada a sua biblioteca e valiosos manuscritos....”.[29] O caminho foi fugir da
ilha – disfarçado de mulher enferma –, juntamente com algumas famílias de seus
fiéis,[30] sucedendo-lhe centenas de outros protestantes que também fugiram
dali.[31] À época,
o Dr. Kalley era casado com Margaret Kalley, que viria falecer em 1851 na
Síria[32].
Posteriormente (14/12/1852), casou-se com Sarah Poulton Wilson (1825-1907),
"poetisa, lingüista e musicista",[33] proveniente de uma família abastada, que se tornaria nossa
conhecida como Sarah Poulton Kalley[34].
As perseguições sofridas na Ilha da Madeira marcaram profundamente a
sua personalidade, tornando-o bastante cauteloso em sua ação missionária,
embora, sem jamais negligenciá-la.[35]
Devido a dificuldade de encontrar no Rio de Janeiro um imóvel que
fosse conveniente para residência e atendesse aos seus objetivos na obra
evangélica, o casal após visitar a Tijuca, Niterói e Petrópolis, decidiu-se
finalmente por Petrópolis,[36] mudando-se para aquela cidade serrana em fins de julho de 1855,
hospedando-se no hotel Oriente (que ficava localizado na atual rua Sete de
Abril).[37] No dia
15 de outubro de 1855, finalmente o casal se mudou para a sua nova residência no
distrito petropolitano de Schweizaerthal (bairro suíço), onde alugou a
mansão “Gerheim” (“lar muito amado”),[38] de propriedade do Sr. Alexandre
Fry.
A Escola Dominical foi inaugurada pelo casal Kalley em
“Gerheim” na tarde de 19/8/1855.[39] - isto ocorreu com a permissão
do atual inquilino da mansão: o embaixador americano Sr. Webb, que ainda não
desocupara a casa,[40] com quem o Dr. Kalley fez boa amizade. Na ocasião a Srª Kalley leu a
história do profeta Jonas, ensinou-lhes alguns hinos[41] e deram graças ao
Senhor.[42]
Passados dois ou três domingos, a escola dominical passou a funcionar
com uma classe de crianças e outra de adultos, sendo esta dirigida pelo Rev.
Kalley, contando alunos negros[43]. “As classes da escola dominical continuaram a funcionar
através de muitas dificuldades, tais como - os maus caminhos em ocasiões de
grandes chuvas, doenças, distrações sociais, festas religiosas, visitas de
amigos e, mais tarde, as ausências da amável professora, quando acompanhava o
seu marido ao Rio, para animar os irmãos que tinham as suas reuniões no Bairro
da Saúde”.[44]
Não se dispõe de dados estatísticos de matrícula e freqüência desta
incipiente escola dominical; temos apenas alguns informes esparsos que nos
revelam o seu crescimento constante:
Em 11/5/1856, a Srª Kalley começou a ler a Bíblia em português a
algumas crianças e a duas de suas criadas (alemãs ?)[45]
Neste mesmo ano as reuniões passaram a ser realizadas em português,
inglês e alemão.[46]
08/6/1856, além da presença de adultos, a Escola Dominical contava
com dez crianças (quatro que falavam português[47] ou inglês[48] e seis que conheciam o
alemão).[49]
Em 01/7/1856, há o registro de 13 alunos presentes. Num domingo de
setembro, compareceram 17 alunos. A partir de outubro, a freqüência média passou
a ser de 20 a 25 alunos, às vezes aumentando.
Uma aluna desta época, Christina Fernandes Braga[50]- avó da famosa historiadora
Henriqueta Rosa Fernandes Braga[51] -, mais tarde, em 1917, relembraria com indisfarçável
satisfação a sua infância, quando estudou com a Srª Kalley:
“Quando eu tinha a idade de 7 anos, em 1856, freqüentava a ‘Classe
Bíblica’ do Dr. Robert Reid Kalley em Petrópolis, em sua chácara, à rua
Joinville, hoje Ypiranga. Reuniam-se ali, das 2 ou 3 às 4 horas da tarde, aos
domingos, para o estudo da Bíblia, sentados em volta de uma mesa grande, na sala
de jantar, cerca de 30 a 40 alemães, meninos e meninas, em sua maioria, cada um
trazendo seu Novo Testamento. Quem levasse decorados três versículos, recebia um
cartãozinho com um texto bíblico; quem conseguisse adquirir 10 cartõezinhos,
recebia um cartão maior, e quem conseguisse 3 maiores recebia um livro.
“Em todas as reuniões, cantavam-se hinos".
“À saída, encontrávamos os que vinham para o estudo bíblico em
português - esses eram em menor número..."
“Após o estudo em português, reunia-se a ‘Classe Inglesa’”.
“(...) Deve-se notar que a ‘Classe Alemã’ era mais numerosa, pois a
língua alemã era mais vulgarizada em Petrópolis, naquele tempo. Tanto o Dr.
Kalley, como sua esposa, Mrs. Kalley, falavam bem esse idioma..."
“Mrs. Kalley só matriculava alunos de oito anos para cima e, no
entanto, fui matriculada antes dessa idade, devido à minha persistência e porque
sabia diversos capítulos de cor....”.[52]
Em 30/5/1860, o casal Kalley mudou-se para uma propriedade mais
central em Petrópolis, denominada de “Eyrie”, pertencente ao Barão de Lucena
(1835-1913), localizada à rua Joinville, n° 1 (Atual Avenida Ipiranga,
135).[53] A Escola
Dominical continuou normalmente em sua residência.
Em 18/7/1864, nova mudança; agora o casal vai para o Rio de Janeiro,
passando a residir provisoriamente na rua do Propósito, até que a reforma da sua
nova casa fosse concluída, o que ocorreu em 18/11/1864, quando então foram morar
à Travessa das Partilhas, 34 (depois 44 e 56). Nesta residência, a Escola
Dominical continuou funcionando na sala de jantar. “Terminada a lição, os
discípulos desciam a grande escadaria que ia ter ao salão da travessa das
Partilhas, onde então se realizava o culto público e a pregação do
Evangelho”.[54]
Com isso, os irmãos de Petrópolis que podiam, passaram a freqüentar a
Escola Dominical do Rio de Janeiro, enfraquecendo assim, gradativamente a Escola
de Petrópolis.[55]
Por este ou por outros motivos, o fato é que este trabalho seria encerrado (1871
?)[56]. No jornal
O Christão - Órgão da União Evangélica Congregacional do Brasil e de
Portugal -, de 15 de agosto de 1927, p. 7, encontramos um desabafo de alguém que
subscrevia o seu artigo com as iniciais “A.A”, lamentando pelo término do
trabalho em Petrópolis, ao mesmo tempo em que estimulava sua Igreja a reiniciar
a obra evangélica naquela cidade.
Concluindo esta parte do estudo, podemos observar que a Escola
Dominical organizada pelo casal Kalley, se caracterizou pela preocupação de se
ensinar a Bíblia e hinos evangélicos. Recordemos o testemunho de sua antiga
aluna: “Em todas as reuniões, cantavam-se hinos”. É digno de menção que eles
editaram em 1861 um hinário com 50 hinos, intitulado, “Psalmos e Hinos para o
Uso Daquelles que Amão A Nosso Senhor Jesus Cristo”, hinário que seria
ampliado através dos anos: 2ª edição em 1865, com 83 hinos; 3ª edição em 1868
com 100 hinos; 4ª edição em 1873, 130 hinos.[57]
O casal retornou definitivamente para a Escócia em 1876.[58]
Neste método, encontramos delineado o princípio defendido por
Martinho Lutero (1483-1546) em 1530, que disse: “Depois da teologia, não existe
arte que se possa equiparar à música, porque sobre ela, depois da teologia, é
que consegue uma coisa que no mais só a teologia proporciona: um coração
tranqüilo e alegre.”[59]
3. OS PRESBITERIANOS E A ESCOLA DOMINICAL
O Rev. Ashbel Green Simonton (1833-1867) foi o primeiro missionário
presbiteriano a se estabelecer no Brasil (12/8/1859) - antes dele esteve o Rev.
James Cooley Fletcher (1823-1901), todavia, ele não pregou em português nem
fundou igreja alguma, pois esta não era a sua missão, contudo, realizou um
trabalho notável[60]...
Simonton, antes de vir para o Brasil estudara um pouco o português em
New York,[61] no
entanto, não se sentia seguro, como é natural, para pregar nesta nova e difícil
língua...
Nestes primeiros meses de Simonton no Rio de Janeiro, torna-se
visível a sua angústia por não conseguir aprender o português tão rapidamente
como gostaria; ele se ofereceu a algumas pessoas para ensinar o inglês ou outra
língua morta, enquanto elas, no caso, ensinariam-lhe o português ou, se não
fosse o caso, ele forçosamente aprenderia o português, por ser obrigado a
conversar com seus alunos na língua materna deles. Aqui dois personagens devem
ser destacados. O primeiro, é o Dr. Manuel Pacheco da Silva (1812-1889), a quem
Simonton trouxera carta de apresentação remetida por Fletcher.[62] O Dr. Pacheco era um
intelectual, diretor do Externato do Colégio Imperial Dom Pedro II de 1855 a
1872,[63] função
que exerceu com competência.[64] Ele era amigo de Fletcher e, tornou-se amigo, aluno de inglês
e confidente de Simonton.[65] No início de seus contatos, o Dr. Pacheco ofereceu-se para ajudá-lo
do estudo do português e Simonton retribuiu a oferta para o estudo do
Hebraico.[66] Foi
ele quem apresentou Simonton ao segundo personagem, que destaco; o Dr. Teófilo
Neves Leão, que era Secretário da Instrução Pública, o qual "prometeu ajudá-lo a
conseguir uma licença de professor, necessária para que pudesse legalmente abrir
uma escola particular."[67]
Os dois tornaram-se amigos e, em dezembro de 1859, Simonton registra:
"Começamos no dia seguinte (a aprender português e a ensinar inglês) e agora vou
diariamente a seu escritório às duas horas. É importante ter como professor
alguém que tenha bom conhecimento da língua."[68]
Apesar destes esforços, Simonton continuou tendo dificuldade com a
língua e, as duas vezes em que anunciou no jornal a sua disposição em ensinar,
não lhe trouxe alunos.[69]
Em 02/01/1860, Simonton mudou de residência, indo morar com uma
família que falava o português: "Muitos esforços e orações foram coroados de
êxito e moro em casa onde posso ouvir e falar o português (...) Estou bem
instalado, mais que esperava em casa de fala portuguesa; já era mais que tempo
de saber a língua da terra"[70].
Finalmente, em 22 de abril de 1860, ele começou uma classe de
Escola Dominical no Rio de Janeiro, ao que parece na casa do Sr. Grunting, onde
havia alugado um quarto para a sua residência, desde 10/4/1860, por um período
de quase seis meses.[71] Este foi o seu primeiro trabalho em português. Os textos usados com
as cinco crianças presentes (três americanas da família Eubank e duas alemãs da
família Knaack), foram: A Bíblia, O Catecismo de História Sagrada e o
Progresso do Peregrino, de Bunyan.[72] Duas das crianças, Amália e
Mariquinhas (Knaack), confessaram ou demonstraram na segunda aula (29/04/1860),
terem dificuldade em entender John Bunyan.[73]
A primeira Escola Dominical organizada em São Paulo pelos
presbiterianos, ocorreu no dia 17 de abril de 1864, às 15 horas, com sete
crianças, sob a direção do Rev. Alexander L. Blackford (1829-1890), que se
encontrava no Brasil desde 25/7/1860 e, em São Paulo, desde
09/10/1863[74].
Este trabalho permaneceu e, posteriormente o seu horário foi transferido para às
10 horas, sendo seguido de um ato de Culto.[75]
Terminada esta parte histórica, façamos algumas considerações sobre a
Educação Cristã...
4. A EDUCAÇÃO: IMPORTÂNCIA E LIMITES
O homem é um ser educável. Ninguém consegue escapar à educação; ela
está em toda parte, sendo intencional ou não, somos bombardeados com informações
e valores que contribuem para nos dar um nova cosmovisão e delinear o nosso
comportamento,[76]
conforme a assunção consciente ou inconsciente de valores e paradigmas que
reforçam ou substituem os anteriormente aprendidos, manifestando-se em nossas
atitudes e nova perspectiva da realidade que nos circunda.
A educação é um fenômeno “tipicamente humano”. Os animais podem ser
adestrados mas, só o homem pode ser educado.[77]
A educação é fundamental para uma construção e transformação social.
A educação é mais do que a transmissão de informações; ela consiste
principalmente na formação ética do homem[78]. A educação visa formar homens
com valores morais que envolvam deveres para com Deus, para consigo mesmo, para
com o seu próximo e para com a sua pátria.[79]
A Educação moral engloba o homem todo,
considerando-o como ser religioso, racional, emotivo, livre e responsável. A
genuína educação visa formar o homem para viver criativamente em sociedade, a
fim de que ele possa assimilar, adaptar e transformar a cultura, através de um
posicionamento racional, emocional e moral; ou seja, que o homem viva e atue em
seu meio, com a integridade do seu ser. Isto só se torna possível, se
conseguirmos despertar em nossos alunos, o amor e o comprometimento
incondicional com a busca da verdade; em outras palavras: compromisso com Deus e
a Sua Palavra.
Todavia, se a educação é extremamente relevante, devemos observar que
ela não resolve todos os problemas sociais, morais e espirituais. A educação
pode nos mostrar o certo e nos estimular a praticá-lo; contudo, entre o
conhecimento do certo e a sua prática, há uma grande distância (Vd. Rm
7.14-24).[80]
O filósofo grego Platão (427-347 aC.), seguindo o conceito de seu
mestre Sócrates (469-399 aC.),[81] entendia que o homem pratica o mal por ignorância do bem. O
problema para Platão, foi conseguir demonstrar a sua tese através do
relacionamento com o seu “discípulo” de Siracusa, Dionísio, o Jovem. Este,
cansado de suas lições, mandou Platão de volta para Atenas; em outro período
(361 aC), quando Platão a seu pedido elaborou uma nova Constituição para
Siracusa, o monarca não se agradando da mesma, o aprisionou. Este é apenas um,
entre diversos exemplos que a História registra, de homens que sabiam a verdade,
porém seguiam caminhos opostos.[82]
Reafirmamos a importância do ensino; todavia, enfatizamos que é o
Espírito Santo Quem nos capacita a fazer a vontade de Deus, a seguir os Seus
mandamentos: Estar convencido de uma verdade não capacita ninguém a praticá-la.
(Vd. Jo 15.5; Fp 2.13; 1 Jo 5.3-5).
Por outro lado, devemos também reconhecer, que “Deus opera através de
processos naturais de maneira sobrenatural.”[83] Nós como professores de Escola
Dominical, somos os instrumentos naturais de Deus para uma obra que transcende a
nossa capacidade de compreensão: a transformação do homem. Deus em Sua soberania
se dignou em nos usar como Seus “instrumentos naturais” para a transmissão da
Sua Palavra sobrenatural, daí a ênfase divina no ensino da Palavra (Vd. Dt
6.6-9; Pv 22.6; Os 4.6; Mt 28.18-20/1 Tm 4.1). O Evangelho “é o poder de Deus
para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16). Para tanto, o homem
precisa conhecer o Evangelho, ser instruído a respeito do seu teor, e compete à
Igreja fazê-lo. À Igreja cabe a responsabilidade intransferível de pregar o
Evangelho a toda criatura. “A mais importante implicação da catolicidade da
igreja, observa Kuiper, é seu solene dever de proclamar o evangelho de Jesus
Cristo a todas as nações e tribos da terra.”[84] dominical
Van Horn declara o seguinte:
“O mestre cristão deveria descobrir o propósito do ensino: a formação
do homem em sua personalidade independente servindo a Deus segundo Sua Palavra.
Este propósito pode alcançar-se unicamente promovendo uma submissão obediente à
Palavra de Deus tanto do mestre como do aluno.
“O ensino, segundo a Bíblia, é simplesmente a satisfação de uma
necessidade divinamente ordenada (a renovação do
homem caído e redimido no que Deus queria que ele fosse), em uma maneira
divinamente ordenada (o uso de métodos conseqüentes com a autoridade máxima, as
Escrituras).”[85]
Concluindo, devemos nos lembrar que hoje nós somos herdeiros deste
trabalho que cresceu e frutificou. Cabe-nos a responsabilidade de participar,
orar e usar a nossa inteligência para aperfeiçoar a Escola Dominical, a fim de
que ela continue sendo um veículo poderoso de propagação do Evangelho e de
edificação espiritual da Igreja.
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